janeiro 18, 2007

Apego ao desapego

Fecha a porta e deixa os problemas do lado de fora.
A fumaça que atravessa a sacada e chega junto com a observação do abajur aceso, compondo o prédio sem cor.
Perdura o instante e pensa em coisas vãs.
A dificuldade de se expressar e de descobrir o que se sente.
O abstrato conforta o algo que não se sabe.
Agarra as palavras para exprimir o espremido.
Poesia é deixar o desejo falar por si só, como se não restasse no mundo, mais ninguém, além da Arte encoberta pelo segredo.
O ritmo, o pulsar.
Abre o coração como se mexesse na caixinha de música e permitisse a entrada da sintonia de pequenas notas doces trazidas pela lembrança deste objeto, e fizesse com que a realização do vôo pelo espaço vazio acontecesse.
Pensa no fogo que não aquece, mas que ao mesmo tempo, queima e faz ferida, e na canção que anseia ouvir no momento em que for preciso ser tocada.
Na beleza das cores e do brilho. No afeto de singelas formas de carinho; no desaparecimento necessário da excessiva preocupação que não precisa estar ali; no terno e no eterno.
A imaginação que não imagina, nem cria nada neste curto pedaço de folha. A mesa que balança e agita as expectativas.
E a sensação do 'vem correndo me buscar', que cá estou à espera de nem sei o quê.
Vem o fim que não termina, o começo que não faz sentido e o intervalo do minuto em que se aguarda.
Mas continua a embalar-se pelo dedilhar de cordas, toques, e a lacuna que em alguma circunstância será preenchida.


CX.
17/01/07