novembro 19, 2007

Pela janela...

Foi inevitável.
A atenção até então desviada, notou fulgurante criatura que pousava interrupta no céu.
Pensou num instante; intacta como se apresentava, repleta de admiração, portando as mãos entrelaçadas nas pernas como quem busca um desejo no ar e leva o semblante de alguém que sonha alto nesta altura, ou como quem obceca-se com a cena recente mais terna que já poderia ter existido, que outros seres em qualquer parte do mundo poderiam estar contemplando tão majestosa figura, simultaneamente. Como se através dela, os olhares se introduzissem em sua superfície até se encontrarem.
O mistério da vida.
Quantos olhares não penetraram no decorrer dos pensamentos? Ligação de almas que têm a força de estarem em um ponto do universo muito distante geograficamente de outro, repito, apenas geograficamente, e serem conectadas pelo seu brilho. Fantasia…
Cintilação que sugere poesia.
Tenciono em versos e trovas.
A mente inquieta quer compor enquanto vaga pelo tempo e pelo espaço.
Palavras fazem companhia. Com o acréscimo do cortejo da música, o momento dá-se por perfeito e completo em toda a sua extensão.
Naquela altura, a audição estava tomada por uma canção tocada num filme de Almodóvar...
Emoção apreendida no peito à espera da comoção.
Os dedos agora pousados no rosto com as mãos apoiadas no queixo, o topo da cabeça inclinado, pescoço estendido, lembranças flutuantes ao som do violino que ritmava ainda a mesma melodia…
Levanta-se e volta.
Contempla mais um pouco o inadiável. Menciona a Lua como a bailarina principal do céu, imóvel ou não, misteriosa, oculta ou explícita, astro essencial da noite, livre de qualquer dependência.
Faz um pedido com a inocência de quem joga uma moeda na fonte mágica da vida e espera com pureza que se torne real; trazendo à tona a idéia de suas memórias lúdicas e tão reais ao mesmo tempo, que o encontro é simplesmente possível se deixar-se ficar apenas um minuto e passar a fixá-la…
Posicione-se, mire com a direção mais bonita que cada ser humano carrega dentro de si, encha o coração dessa luz irradiante e eu estarei esperando-o lá.
Lá…
Cá…

CX.
16/11/2007