No fundo, acha isso mesmo?/O que você vê?

outubro 05, 2006














na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui. na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.
José Luís Peixoto

outubro 04, 2006

Enunciam que passamos a valorizar algo ou alguém ainda mais depois da percepção de perda. Receio isso. É. Dúvida acompanhada do temor de não saber aproveitar o momento que tenho nas mãos, devido a sonhar; já que sonhos nos levam para longe ao mesmo tempo em que nos fazem ficar. Acho que já desvalorizei, em algum instante. Incerteza provinda há pouco do livro de Saint-Exupéry: o peso maior é ser cativado ou cativar? E minha flor, onde estará? Necessito preservá-la.
"Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta". Minha pedra é a multidão. Somos tão pequenos diante dela. Já fui desvalorizada. Os dois lados de tudo, parte oposta a outra. Admiro a ambiguidade das letras de Chico. A frase do Baleiro que diz que o maior desejo da boca é o beijo. Oswaldo que suplica levarmos o coração feliz aonde quer que vamos. A música cria a ilusão do deslocamento de pessoas e ocasiões. Transfere sentimentos à vida. Reflito com a asseveração de Anitelli - "os opostos se distraem, os dispostos se atraem". Desejo conhecer novos lugares e pessoas. O suficiente para discernir o querer do não querer. Já que o que pode me causar prazer, ao outro pode gerar sofrimento. Faz sentido. Dentre tantas dessemelhanças, temos a mesma natureza.
15/04/06

CX.