No fundo, acha isso mesmo?/O que você vê?

maio 10, 2007

Berbere


Uma noite a princípio sem estrelas.
A longa espera pelos seres irracionais (tão racionais) que não vinham…
Ventava muito.
Apesar da escuridão, era preciso usar os óculos de lua para proteger os olhos.
Durante o caminho, o pensamento ía longe.
Longe de tudo e tão perto de si mesmo.
Expectativa sacudida.
Solidão completa e reencontro.
O homem portava panos simples, andava horas a fio a ser guiado pelo clarão das estrelas.
Mirava o brilho e seguia.
Andava muito, muito.
Trabalhava demasiadamente.
O pé que pisa na areia afunda;
Enterra ali suas vivências, suas más experiências…
A dor física já não havia,
O corpo já estava habituado.
Os dromedários seguiam em fila.
Garrafas, roupas e pertences pendurados.
O destino fez assim.
Depois da refeição feita sem talheres,
A mão que prepara os alimentos produz som no tambor.
A cada sorriso, o surgimento de uma nova estrela.
O céu agora estava inundado de luz.
A lua cheia estava ali intacta para completar o cenário.
Todos numa roda envolvidos pela música que fazia estremecer o coração.
E o homem que falava cinco línguas, era o homem que puxava os animais.
Que passava uma vida no deserto a relatar que a cada fim de seu dia era diferente...
Era uma história. Uma estória.
Incentivou o aprendizado, o enxergar bonito das coisas.
De valorizar a pequena flor que pôde nascer em meio a tanta seca.
A tanta morbidez e a tanta vida escondida ali.
Ao calor insuportável e ao frio…
Ao calo seco, o machucado cicatrizado.
...Que é a vontade de aprender, "é a gana", segundo suas palavras.
E a essa gana que escrevo.
A essa incrível percepção de que cada momento é peculiar, cada vivência tem sua importância e que cada pessoa é única.
À gana.
À vida.

CX.
09/05/07